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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Filosofia, por quê?

     Recentemente terminei de ler o livro "A Filosofia: O que é? Para que serve?" do prof. Danilo Marcondes em coautoria com a prof.ª  Irley Franco e em post futuro quero escrever a seu respeito. Neste post, contudo, partirei da pergunta bastante pertinente do seu subtítulo para relatar de modo rasteiro o meu interesse particular por esta disciplina.

     Para que serve a filosofia é uma pergunta muito comumente feita pelas pessoas. De que serve esta disciplina se ela não produz nada concreto? Qual a aplicação técnica que damos a ela? De que maneira o seu estudo ajudar-me-á para a consecução de uma vaga no competitivo mercado de trabalho? Acho que estas perguntas são válidas, todavia é comum também as pessoas emitirem opiniões a respeito da filosofia sem conhecê-la minimamente,  muitas vezes reduzindo-a simplesmente a visão de mundo, a qualquer texto que verse sobre sentido da vida (mesmo que da maneira mais pobre possível), a frases obscuras que intentam passar algo profundo, ou até mesmo confundindo com literatura.

     O autor apresenta diversas formas de se conceber a filosofia, de "produzí-la". Etc. No meu caso, foi uma dúvida específica que fez com que eu me interessasse por esta forma de conhecimento. Eu era um estudante de Engenharia, um curso no qual os estudantes, em sua esmagadora maioria, tem um nível muito baixo de reflexão. Reflexões a respeito dos fundamentos das disciplinas e conhecimentos que são aprendidos, bem como os significado subjacente dos artifícios matemáticos utilizados são completamente ignorados. O estudante de Engenharia limita-se a aprender a realizar seus cálculos "mecanicamente" e enquanto obtiver sucesso em resolver problemas concretos com isso ele permanecerá contente, além de também reputar-se gênio ou detentor de um conhecimento altamente complexo que outros reles mortais pertencentes aos demais cursos não são intelectualmente capazes de apreender. A falta de reflexão é tamanha que o dito "gênio" engenheiro, que se considera altamente racional e lógico, aquele que domina as mais refinadas ferramentas matemáticas, nem consegue aplicar estes "princípios racionais" (aliás ele nem é consciente desses princípios, e nem sabe o que é lógica) para outros problemas da vida, via de regra permanecendo miseravelmente no senso comum e ainda achando-se inteligente (também é digno de nota a deficiência em expressar-se e escrever corretamente).    

     Pois bem, eu era meio que assim. No entanto, nunca tive a segurança ontológica que as pessoas normalmente têm, de tal forma que muitas vezes estudar aquelas coisas visando somente passar e arranjar um emprego não faziam muito sentido pra mim, e eu queria dar um sentido à minha vida. Em razão de certos acontecimentos, De repente me fiz consciente do quão esmagadora é a pressão e a coerção que a sociedade e suas instituições exercem em nós indivíduos, e passei a questionar-me por que a sociedade é desta maneira, e por que ela não poderia ser de outra. Estas dúvidas, somadas à falta de sentido que eu atribuía ao curso de Engenharia ( não me entendam errado, é um excelente curso e tem pessoas inteligentíssimas, mas são poucos, assim como nos outros cursos) fizeram com que eu trocasse de curso, tornei-me um estudante de Ciências Sociais (de gênio passei a ser um daqueles aos quais Deus negou capacidades cognitivas avantajadas).

     Foi uma outra decepção. Acredito que pelo fato de ter vindo das Exatas, que possuem métodos mais consolidados e precisos, logo as questões originais que me levaram ao curso foram logo suplantadas por outra, qual seja, o que torna válido um conhecimento? É dizer, como podemos dizer que um conhecimento é correto, que tem reflexo no real?

     Diferentemente das ciências exatas e naturais, onde geralmente um determinado paradigma suplanta os outros e torna-se o dominante em um determinado momento histórico, nas ciências sociais vários coexistem. E no curso de ciências sociais o que percebo também é a mesma falta de reflexão a respeito dos fundamentos do que se faz, do que se estuda e do que se fala. A maioria das pessoas somente faz reproduzir discursos e aceitar os conhecimentos que lhe convém. A visão "do que eu acho de como as coisas tem que ser" importa muito mais do que "o que as coisas de fato são". A defesa de determinadas idéias e posturas acaba se tornando vazia e estéril; estas são motivadas muito mais por um sentimento de "vou pagar de revoltadinho, consciente e crítico, pois só eu sei pensar e não sou como o povo burro e alienado dominado pelo sistema" e toda série de clichês ("sabe pensar", mas não sabe sequer o básico de português e matemática), do que motivadas por uma séria e profunda meditação, reflexão e consequentemente convencimento intelectual.

     Imbuído dessas dúvidas é que me percebi interessado pela filosofia, pois talvez ela seja aquela com a qual eu possa solidificar uma estrutura sobre a qual  repousar-se-ão meus conhecimentos, e com a qual conseguirei ter uma maior segurança das minhas posições, ainda que certamente sempre repensá-las-ei.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Lesma atravessando o Jardim

       Devo iniciar este post enfatizando o marasmo por que passo e o sentimento de inutilidade que me corrói todos os dias. É angustiante o sentimento de ser um completo inútil, de nunca conseguir fazer aquilo ao qual você se propõe toda vez que levanta da cama. Pior, é não ter horário pra levantar e dormir, sintoma mais notório da falta de coisa útil a se fazer. A sensação de ver o transcorrer dos dias com uma tibieza de ânimo, permanecer inerte vendo a vida passar enquanto outras pessoas fazem algo, mas você aí na mesma lentidão de vida de uma lesma que atravessa um jardim. Por isso começo a escrever algo aqui, sem na realidade ter algum assunto sobre o qual escrever, escrevo somente para fazer algo, desenvolver uma postura ativa e não ser somente um receptor passivo e acrítico de informações que a todo momento me são bombardeadas. Este exercício pode ser salutar em alguns aspectos. Assim, quem sabe, desenvolvo uma melhor atividade de escrita, bem como posso sistematizar melhor meus pensamentos, pô-los em ordem, de tal forma a ficar mais claro algum sentido para a minha ação neste mundo e na minha vida efêmera, pois me parece que a partir de um dado momento perdi minha segurança ontológica e não consigo viver a plenitude de meus dias. Talvez comece arrolando as minhas fúteis principais preocupações no momento, com o fim de, como supracitado, melhor entender-me, funcionando mais ou menos como uma espécie de confissão ou meditação. 


       Simplesmente tenho, por teimosia talvez, certa fé nas minhas capacidades. Acho que talvez seja capaz de algo acima da média, talvez este seja um vício que carrego comigo. A questão é que não consigo direcionar toda esta presumida capacidade a nada. Pior, não consigo aparentemente gostar de nada e viver minha vida normalmente, porquanto no momento me vejo escravo do deste sentimento exposto, achando que devo empregar minhas energias em algo para conseguir de certa forma me destacar. Mas para que isso? Qual a importância disso? Sentir-me seguro, alguém de valor? E esta segurança adviria somente de uma satisfação comigo mesmo, interna; ou, pelo contrário, porque assim as pessoas me veriam de outra forma e isso de deixaria contente? Se por um acaso este objetivo fosse concretizado, eu seria mais feliz e passaria a viver minha vida tranquilamente? Usufruindo de tudo que ela pode me oferecer? A verdade é que não sei.


       Não sei o que fazer, e o tempo passa, e quanto mais o tempo passa, mais difícil as coisas vão ficando. Sinto que tenho obrigações para com outras pessoas, e gostaria de ver-me livre delas, livre de ter de dar satisfações. Este seria, quiçá, um primeiro passo para a tranquilidade espiritual tanto almejada. O grande problema é minha falta de foco, já que quero abraçar o mundo inteiro, correndo sério risco de tornar-me um pato: alguém versátil, com uma ampla variedade de habilidades, porém sem saber executar nenhuma delas com maestria. E a maestria é algo que me desperta um grande interesse, sabe-se lá o porquê. 

     Descobrir os princípios e valores por trás das minhas ações talvez sejam o primeiro passo para uma maior consciência e segurança das minhas atitudes doravante. Tendo este conhecimento como base, é possível viver uma vida com maior responsabilidade, mais consciente de mim mesmo, mais integrado comigo, sem precisar refletir a todo momento a respeito daquilo que faço e de quem sou.

domingo, 18 de março de 2012

Vagueza obscura desnorteante

Quais as razões últimas para a escolha e execução de um objetivo?

O seu objetivo permanece o mesmo, independente do que os outros alcancem?

Deve-se fazer algo pelo gosto e prazer, ainda que esse algo seja meio ou fim, não para sentir-se reconhecido por fazê-lo.

As pessoas não lhe reconhecerão ou importar-se-ão com você por sua atividade, ao menos não as que importam.

As que importam já se importam com você.